sexta-feira, 21 de dezembro de 2007

A hora do balanço

"Lugar de ser feliz não é supermercado" (Zeca Baleiro)

Sabe, 2007 foi um ano difícil. A vida me empurrou do precipício: "voa!". E eu, que nem sabia que tinha asas, me virei.

Em tempo recorde, tive que aprender a cuidar de uma casa; de um casamento que eu nunca sei se é casamento mesmo; e de um orçamento que insiste em ser menor que aquele ao eu qual estava acostumada.

Pedi demissão. Aprendi a fazer frango e viradinho de lingüiça. Larguei mão de ser ongueira, virei empresária e aprendiz de astróloga. Fiquei doente e sã, cuidei e fui cuidada.

Fiz amigos novos, lindos. Briguei com amigos velhos, que também são lindos. Mas a gente muda com o tempo. Tem gente que não muda. ou que muda para um caminho diferente do nosso. Paciência, paciência.

Virei noiva. Aliança no dedo, sogros, cunhada, Natal em família. Ciúmes, briga. Não é fácil harmonizar projetos de vida. No fundo da alma, a certeza de que sou muito habilidosa na vida do mundo, e ele, na vida emocional.

A especialização foi para o espaço. Em compensação, fui selecionada para o mestrado. Boa colocação, chances de bolsa. E uma felicidade engraçada, que não é orgulho, é sim uma certeza de que quando a gente relaxa, a coisa dá certo.

Cheguei nesta casa com um colchão, uma TV, computador, dois racks e uma máquina de lavar. Uma caixa de isopor servia de geladeira e uma sanduicheira esquentava pão e fazia omelete. Hoje, temos fogão, geladeira, cama, água quente, telefone e (até que enfim!), Internet.

Em 2008, eu só quero ser mais suave. Mais do que os meus R$ 10 mil no banco, mais do que um milhão de amigos, mais do que fazer um mestrado excelente, eu quero este orvalho sobre a alma. Quero suavidade.

Em 2008, não aceitarei imperativos de espécie alguma - muito menos aqueles dos anúncios publicitários, compre, use, leve. E menos ainda se acompanhados da palavra "agora".

Quero fazer tudo sem pressa e com sentido. Quero estar atenta para cada Buda que se materializar em meu caminho. Respirar mais fundo. Ouvir música. Ler mais. Me conhecer mais por meio da astrologia.

Quero amigos, amigos, amigos - cada vez mais, melhor, mais gostoso, de longe, de perto, na mesma casa ou via MSN. Quero transformar meu talento em ouro, sem sofrimento.

Diz Fabinho que 2007 foi difícil porque 2008 será gostoso. Eu estava tristinha na hora, e ele queria me animar, mas torço para que se seja verdade. Um 2008 gostoso, cheiroso, bonito, musical... pra mim, e pra todo mundo.

quinta-feira, 20 de dezembro de 2007

"Bispo é internado em UTI após Justiça liberar obra"

(Jornal A Tarde, 20 de dezembro de 2007)

Luiz nem sente fome. Depois de mais de 20 dias sem comer, sentir fome torna-se um esforço descomunal. A esta altura, é melhor não sentir nada, deixar-se estar. O povo faz corrente de oração, pelo menos o alimento para a alma é abundante.

Mas Luiz insiste em sentir. Se não fome, qualquer outra coisa, mas sentir. Quando soube que a Justiça havia liberado a transposição, Luiz quis se levantar, mas o mundo escureceu. Desmaiou - de fraqueza, ou de indignação?

Foi levado ao hospital, tomou soro, está inconsciente. Já disseram que a sua greve de fome acabou, chegou ao limite o seu corpo. É melhor um Luiz vivo do que um morto.

quarta-feira, 19 de dezembro de 2007

Morgana

Morgana era uma bruxa.

Aparelhos estranhos assustavam os convidados à sua sala. Uma espécie de bacia de metal. Pequenos ganchos, pás, espátulas e espelhos. Alicates.

Branca como a neve, ela recebia com um sorriso. Fazia-os sentarem-se em uma cadeira que - surpresa! - era encantada como a dona e movia-se a seu comando. Acendia as lâmpadas, mas as luzes eram muito fortes e ofuscavam o convidado.

E criava histórias. Para uma, jornalista, contou que produzia pequenos boletins informativos na época da escola. Para outro, artista, narrou as peripécias de seu grupo de teatro da juventude. Deve ter tido mil vidas, ou vivido 300 anos, como faziam as bruxas da velha geração.

Ficavam todos boquiabertos. Ou melhor, de boca aberta.

Morgana não era bruxa. Morgana era a fada dos dentes.

segunda-feira, 17 de dezembro de 2007

LibriAna (1)

Todo o que me conhece
Não erra, fala na lata:
“ – Libriana!”

Não diz com esta palavra
Mas com outras, diferentes
Que no fundo são iguais

“Tão simpática...”
“Desce do muro!”
“Tão sensata...”
“Panos quentes!”
“Tão charmosa...”
“Enjoada!”

(Tantos jeitos diferentes
Pra falar da mesma coisa)

Quis a Mãe de toda a vida
Que no dia em que eu nascesse
Fosse a Libra a iluminada

Deu-me um jeito pasmacento
A harmonia por talento
A balança e seus dois pratos

Deu-me o ar, a brisa, o vento.

domingo, 16 de dezembro de 2007

Todos os dias acontecem milagres neste lugar em que estou

O lugar em que estou é azul onde nascem delicadas flores pretas
Pequenos animais de duas cabeças
Minha barriga cresce
E de repente tenho nove pernas
Um relógio no meio da testa
Um par de asas
Tentáculos em lugar de braços
Uma rede no lugar do coração, e ninguém me escapa
Não tenho mais boca, mas não há quem não me ouça
Desperto de tanto estar acordada
E acordo para dentro de mim.

Voltei, pessoal

Internet rápida em casa é outra coisa...